Quinta, 31 de julho de 2025, 01:38

Xadrez na Política

COLUNA

EXERCÍCIO DE FUTUROLOGIA

Por Arnaldo Eugênio, doutor em Antropologia.

É fato que prever o que acontecerá nas eleições majoritárias e proporcionais no Brasil, em 2026, é como acertar na loteria seguidas vezes com os mesmos números e sozinho – ou seja, é possível, porém, improvável e onerosíssimo.

Mas, nada impede de se fazer um exercício de futurologia na política brasileira, mesmo pouco recomendável para cientistas políticos – o que dirá a antropólogos –, podendo ser visto como um tolo em política, não obstante aberto aos “críticos de plantão”, isto é, àqueles "especialistas em apontar defeitos”.

No caso do Piauí, sem perder de vista a conjuntura nacional, apesar dos pesares, e mesmo sob um horizonte ainda bastante nebuloso, pode-se ensaiar quais são os campos de possibilidades decorrentes das decisões do governador Rafael Fonteles e dos partidos aliados.

Assim, partindo da não derrubada do veto presidencial ao PLP 177/23 – que aumentaria o número de deputados federais –, o Piauí terá 26 deputados, exercitarei duas expectações: 1) a queda da mobilização bolsonarista nas ruas com pequenos contingentes de pessoas; 2) apesar dos riscos, os partidos da coalizão governista na ALEPI podem ter estímulos políticos mais fortes para continuar apoiando o executivo.

Primeiro, a queda da mobilização bolsonarista nas ruas com pequenos contingentes de pessoas mina a força da oposição. Com isso, se fortalecerá não somente o Planalto, o Congresso, mas também o Karnak e a ALEPI, reduzindo a possibilidade de mudança de posição dos partidos que sustentam o executivo.

A começar pelo PMDB, que por ora, tem expressado rechaçar a ideia de perder a vaga de vice-governador. Essa insistência de posição poderia abrir os flancos de disputas na base aliada do governo, que, se mal contornadas, pode colocar a reeleição de Rafael Fonteles em péssimas condições políticas de sustentação. Onde o diálogo será o meio necessário para evitar uma aglutinação de insatisfeitos na oposição neutralizada.

Para tanto, o governo deve ceder aos partidos da base aliada, como vem fazendo, e abrir mão da agenda política própria durante as negociações com o pleito do “MDB de Themístocles” e as insatisfações dos emergentes. Evitando um processo de desgaste lento e gradual do governo que seria testado nas eleições de 2026, com apoios municipais escusos.

Assim, a partir destas eleições, no Piauí, pede-se uma nova reconfiguração político-administrativo, que poderá levar, a depender desse processo, a um aumento de apoio político-partidário do governador. Este sim, seria um cenário bastante favorável e, no mínimo, o ciclo de poder do PT não seria interrompido.

Segundo, formar um “chapão PT e MDB” é uma opção viável, com base nas maiores votações, se bem alinhado. Pois, do contrário, pode avivar a oposição para montar “chapinhas de insatisfeitos e de emergentes”. Mas, por outro lado, o governador e os líderes da base podem canalizar a insatisfação com negociações e parcerias políticas, para continuar o apoio ao executivo na ALEPI.

Talvez, assim, é que o governo possa ver-se livre de tais problemas. Até porque, ainda mais antes de uma eleição, os problemas políticos e partidários não são debelados de forma instantânea como muitas vezes se espera. Pois, há muitos interesses em jogo e, no xadrez da política, mexer uma peça errada pode custar uma derrota inesperada.

Portanto, as questões políticas e partidárias são complexas, e as respostas dependem de relações de poder, de força, muito mais complexas. Nesse contexto, somente a persistência democrática, com a negociação constante e acompanhada do diálogo necessário podem levar Rafael Fonteles para o próximo e mais desejado nível: a sua reeleição, com uma base aliada fortíssima na ALEPI.

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