Domingo, 07 de dezembro de 2025, 15:48

Xadrez na Política

LIMITAÇÃO FÍSICA E/OU MENTAL

ENTRE NORMAIS E ANORMAIS

ARNALDO EUGÊNIO DOUTOR EM ANTROPOLOGIA

Enquanto houver uma mentalidade de preconceito de que às pessoas com alguma limitação física e/ou mental são inaptas a participar no desenvolvimento da sociedade, a injustiça social será um bloqueio para os indivíduos que estão fora dos padrões sociais preestabelecidos como “normalidade”.

Contudo, quem de nós que, hoje, se julga ou se enxerga como uma “pessoa normal” não tem ou terá algum tipo de limitação física e/ou mental identificada ou não identificada? Pois, uma limitação pode vir de uma condição biológica ou adquirida nas circunstâncias da vida. Assim, todos temos ou teremos, cedo ou tarde, algum tipo de limitação física e/ou mental.

Nesse sentido, ser tido como uma “pessoa normal” é estar enquadrado em um padrão social de “normalidade” em um tempo e lugar. Mas, nenhum padrão social é estático, podendo mudar ou se moldar conforme as circunstâncias e a dinâmica dos valores em que se ancora a consciência de massa dentro de uma determinada sociedade – ódios, medos, desconfianças, crenças, incertezas etc. 

Eu, por exemplo, até os sete anos de idade fui visto como uma “criança normal”, ou seja, que estava dentro do padrão de normalidade da época. Porém, deixei de sê-la, em meados dos anos de 1970, quando perdi a visão do olho direito ao sofrer, acidentalmente, um tiro de espingarda bate-bucha.

Com isso, ao perder o rótulo de “normal”, fui colocado no “grupo de incapazes”, tendo que aprender com os instintos a ser resiliente na dor, para enfrentar e superar os ciclos de estigmas repetitivos, causadores de traumas e de muitos sofrimentos existenciais.

 Porém, com o auxílio da medicina (do Dr. Geraldo Lajes), a escola da vida, a ciência, as artes e a espiritualidade, fui aprendendo a transformar a dor em poder – no sentido de autocura, de equilíbrio, de temperança, de fé inabalável e de paciência – para superar as barreiras sociais, as dores da alma, as adversidades cotidianas, os preconceitos, os deboches, as discriminações, as humilhações etc.

A medicina (do Dr. Geraldo Lajes) trouxe a cura do trauma físico; a escola da vida me ensinou a não desistir e se desafiar; a ciência transformou a visão de mundo; as artes me devolveram a auto-amorosidade sem scripts do ego; e a espiritualidade me tirou da culpa e me despertou para o poder pessoal e a cocriar com Deus, numa luta para não me enquadrar como “normal” ou “anormal”.

A Sociologia me ensinou que o padrão social é um conjunto de normas, comportamentos, costumes e regras, que são considerados normais e aceitáveis por uma sociedade ou grupo social específico. Ou seja, um constructo social para enquadrar ou classificar alguém como “normal” ou “anormal”.

Assim, entendi que os padrões são destrutivos para a individualização. Eles são aprendidos através da socialização desde o nascimento e influenciam nas nossas atitudes, valores, visões e ações, moldando o ego em comportamentos, aparências, julgamentos e expectativas socialmente aceitos como “normais”.

Desse modo, o preconceito vem da desinformação ou reprodução de padrões que se expressa na falta de empatia e na sensação de superioridade por ser visto como uma “pessoa normal”. Contudo, o “normal” de hoje pode ser visto amanhã como um “anormal”. Pois, a noção de “normalidade”, enquanto um processo, é vista de forma dinâmica, e não estática.

Portanto, a inclusão social de pessoas com quaisquer limitações físicas e/ou mentais – p.ex. no mercado de trabalho – exige um rompimento com os processos de preconceito e a visão limitante fixados na noção de “normal” e “anormal”, que reforça o estigma ou a poluição ritualística de pessoas como inúteis, incapazes, inferiores e infaustos.

Leia Também

Dê sua opinião: